Domingo, 3 de abril de 2011
Certa vez um jovem e dedicado discípulo, aborrecido com as atitudes de seus companheiros, veio até o Mestre consultá-lo.
- Mestre, alguns de meus irmãos de jornada são ignorantes e falam demais, há ainda os indiferentes e os mentirosos. Reconheço a minha imperfeição, no entanto conviver com eles tem se tornado uma tarefa difícil de suportar. Como devo agir para aceitar a presença deles sem que me aborreça?
- Viva como as flores! – respondeu o Mestre de forma rápida e serena.
- Mas como é viver como as flores, Mestre? - perguntou o discípulo.
Então, apontando para o jardim florido que rodeava o Templo, respondeu o Mestre:
- Olhe para elas: nasceram no esterco e, no entanto, são puras e perfumadas. Extraem do adubo malcheiroso tudo que lhes é útil e saudável, mas não permitem que o azedume e a podridão manchem o frescor de suas pétalas.
Notando a atenção do jovem, continuou o Mestre:
- É justo angustiar-se com as próprias culpas, mas não é sábio permitir que os vícios dos outros nos importunem. Os defeitos deles pertencem a eles e não a você. Ora se não são seus, não há razão para o aborrecimento. Exercite, pois, a virtude de rejeitar todo o mal que vem de fora, não se permitindo contaminar por ele. Agindo assim, meu discípulo, viverá como as flores!
“Caros visitantes e discípulos do Sanchin Dojo,
aproveitando o ensejo, não poderia deixar de falar sobre a flor da Cerejeira (Sakura - ver foto). Muito apreciada no Japão, ela carrega vários símbolos. Representa, entre outras coisas, a felicidade: na época de seu florescimento as crianças iniciam o ano escolar e os recém formados saem em busca de trabalho. Nesta mesma época são realizadas as festas ao ar livre, debaixo das cerejeiras em flor, chamadas de “Hanami” (Contemplar as Flores). O chá de pétalas de Sakura é utilizado em rituais como casamentos e ocasiões festivas.
Esta flor é, também, o símbolo da vocação guerreira dos Samurais, pois representa a devoção pela vida e a procura do caminho espiritual. As flores da cerejeira são breves, duram de uma a duas semanas da Primavera, assim a vida dos Samurais também deveria ser breve e terminar com uma morte honrosa no campo de batalha. Além disso, esta flor desprende-se facilmente sem passar pelo processo de apodrecimento no tronco. O Samurai, a exemplo, devia igualmente deixar esta vida com graciosidade, sem medo ou relutância. Assim, a Sakura é a imagem da precariedade da vida e do desapego dos bens mundanos. A sua cor branca ilustra a pureza de alma desejada pelos Samurais (estima-se que, no Japão, existam cerca de 200 espécies de cerejeiras, com flores que vão do vermelho ao branco, passando pelo rosa e o pêssego).
Um conhecido ditado exprimia a simbiose entre eles e esta flor:
‘Assim como a flor da cerejeira é a flor por excelência, da mesma forma o Samurai é, entre os homens, o homem por excelência.’
Forte abraço e boa reflexão!”
Sensei Júlio Mário – 3o.Dan
Fontes:
3 comentários:
Belo conto sensei!!!
Este conto traz uma observação simples que, sem dúvida nenhuma, é uma grande e nobre lição para se viver bem.
Gostaria de citar uma outra característica que as flores têm para nos oferecer como exemplo.
Todas as flores "florescem onde foram plantadas". Seja em terreno hostil, em meio a pedregulhos ou em jardins tecnicamente bem cuidados.
Deus usou as flores para nos dar este lindo exemplo, digno de ser seguido.
Lindo conto Sensei!
Ótimo para refletir.
Queridos discípulos Lílian e Wendell,
muito obrigado por acompanharem os contos.
Vocês me motivam a continuar com este trabalho.
Abraços carinhosos.
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