O GUARDA-CHUVA E AS SANDÁLIAS – Conto Zen Budista


Segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Conta-se que, certa vez, o Mestre Tan-in solicitou que um de seus discípulos viesse até seus aposentos ao entardecer. O motivo do convite se dera porque o Mestre havia notado, já há algum tempo, que este discípulo mostrava-se ansioso, pois ainda não havia compreendido a essência do Zen.

Como o Mestre Tan-in tinha muitos discípulos e atribuições, o ansioso discípulo achou inusitado o convite para uma conversa em particular. Começou a ficar excitado, pensando: "O que será que o Mestre deseja de mim?", "Será que ele quer me repreender por algo que eu tenha feito?”, “Será que ele quer me testar?", "Será que ele deseja me atribuir alguma tarefa?".

Ao entardecer, com a mente atormentada por pensamentos, pôs-se o monge a andar em direção à casa do Mestre. Como estava chovendo levou consigo seu guarda-chuva. Ao chegar à porta da casa, fechou o guarda-chuva, colocou-o num canto, retirou as sandálias molhadas e as colocou ao lado do guarda-chuva.

Já dentro da casa, estando diante do Mestre, fez as mesuras que mandam a etiqueta monástica e sentou-se.

O Mestre foi logo dizendo:

- Meu querido discípulo, vi pela janela que você chegou com um guarda-chuva, estou certo?

- Sim, Mestre. – respondeu o discípulo.

- Então me diga: antes de entrar você deixou suas sandálias à direita ou à esquerda do guarda-chuva?

Desapontado e intrigado, o discípulo respondeu:

- Me perdoe Mestre, mas não me recordo. Minha mente estava ocupada pensando sobre o que o Senhor queria de mim.

Então o Mestre, com voz serena e de modo amável, disse:

- Se você não prestar atenção na vida jamais aprenderá a essência do Zen, meu discípulo. Viva aqui e agora. O Zen está em cada segundo e em cada gesto. Este é o segredo!

“Caros amigos visitantes do blog e discípulos do Sanchin Dojo,
já notaram que passamos uma boa parte do tempo de nossas vidas no passado (sentindo saudades ou se lamentando por algum erro cometido) ou no futuro (ansiosos e preocupados pelo que virá ou pelo que queremos que aconteça)?
Segundo os ensinamentos do Budismo um simples gesto como varrer o chão, por exemplo, se feito de forma consciente pode nos levar à felicidade ou à iluminação. Pois a felicidade está em viver o momento presente. O passado não existe mais e o futuro ainda não aconteceu, são virtuais, observando a vida como ela é, aqui e agora, é que permanecemos livres e equilibrados.
Como diz o Dalai Lama: ‘Só existem dois dias do ano em que nada pode ser feito. Um se chama ontem e o outro se chama amanhã. Portanto hoje é o dia certo para amar, acreditar, fazer e principalmente viver.’
 Boa reflexão! Abraços!”
Sensei Júlio Mário – 3º. Dan

4 comentários:

Lilian de Paula disse...

Belo conto!

Me fez lembrar de uma coisa: quando somos criança, queremos crescer para podermos mandar na nossa própria vida... na adolescência não vemos a hora de completar 18 anos... depois, quando já temos uma certa idade, queremos ser jovem novamente. E assim a vida passa e não fazemos muitas coisas das quais gostaríamos.

Não podemos recuperar o tempo... mas podemos aproveitá-lo !

Obrigada por mais um lindo ensinamento, Sensei!

Felipe disse...

Esse conto me ajuda também que se deve viver cada momento observando os detalhes, que a vida não deve ser superficial e tudo tem ser feito com todo o coração, com toda atenção!

Julio Mario disse...

Queridos alunos Lílian e Felipe,
obrigado pelos comentários. Gosto muito de lê-los.
Vocês enriqueceram ainda mais a nossa reflexão.
É o professor aprendendo com os discípulos!
Abraços.

Lilian de Paula disse...

Eu sou grata por cada ensinamento que o senhor nos passa. E não são poucos. E através do blog mais pessoas recebem os seus ensinamentos. Isso é muito bom!
Obrigada Sensei.

Grande abraço!

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