Domingo, 20 de novembro de 2011
Krisha Gotami teve um filho e este morreu. Transida de dor ia com o filho
morto de casa em casa, pedindo um remédio, e as pessoas diziam:
- Está doida: a criança está morta!
Krisha Gotami, enfim, encontrou um camponês que respondeu à sua súplica
dizendo:
- Não posso dar um remédio para a criança, porém sei de um médico capaz
de dar: O Buda!
Krisha Gotami, então, correu até o Iluminado e exclamou, chorando:
- Senhor meu e Mestre: meu filho estava brincando entre as flores e
tropeçou numa serpente que se enroscou em sua perna. Ficou logo pálido e
silencioso. Não posso aceitar que ele deixe de brincar ou que deixe o meu colo.
Senhor meu Mestre, suplico-lhe, dá-me um remédio que cure meu filho!
O Iluminado respondeu:
- Sim irmãzinha, há uma coisa que pode curar teu filho e a ti: procura um
simples grão de mostarda, porém só deves recebê-lo de uma casa onde nunca tenha
entrado a morte.
Aflita, Krisha Gotami foi de casa em casa pedindo o grão de mostarda. As
pessoas se compadeciam dela e lhe davam os grãos, porém, quando ela perguntava
se já havia morrido alguém naquela casa, lhe respondiam:
- Ah! Poucos são os vivos e muitos os mortos. Não despertes nossa dor!
Agradecida, ela lhes devolvia os grãos e dirigia-se a outros que lhes
diziam:
- Aqui está a semente, porém já morreu nosso pai.
- Aqui está a semente, porém o semeador morreu entre a estação chuvosa e
a colheita.
Mas ela não desistia.
"Deve haver alguma casa onde a morte não seja conhecida.",
pensou. Ao entardecer, exausta de tanto caminhar e bater nas portas, então
compreendeu: "A morte é parte da vida. Não é uma calamidade pessoal que só
tenha acontecido comigo!"
Com esse entendimento, voltou a Buda.
- Ah Senhor, não pude encontrar sequer um grão de mostarda em casa onde
não tenha ocorrido a morte. Então, entre as flores silvestres, na margem do
rio, deixei meu filho que não queria mamar nem sorrir, e volto para ver teu
rosto e beijar teus pés suplicando-te que me digas o que fazer.
O Mestre respondeu-lhe:
- Minha irmã, procurando o que não podes encontrar achaste o amargo
bálsamo que eu queria dar-te. Sobre teu seio, o ser que amas dormiu hoje o sono
da morte. Agora já sabes que todo mundo chora uma dor semelhante à tua. O
sofrimento que aflige todos os corações pesa menos do que se concentrado num
só. Escuta: derramaria meu sangue se pudesse deter tuas lágrimas! Nenhum
nascido pode evitar a morte. Assim como os frutos maduros caem da árvore, assim
os mortais estão expostos à morte desde que nascem. A vida corporal do homem
acaba partindo-se como a vasilha de barro do oleiro. Jovens e adultos, néscios
e sábios, todos estão sujeitos à morte. Porém, o sábio que conhece a Lei não se
perturba, porque nem pelo pranto nem pelo desânimo obtém-se a paz, mas pelo
contrário, isso tudo aviva as dores e os sofrimentos do corpo. Embora viva dez
ou cem anos, acaba o homem por separar-se de seus parentes ao sair deste mundo.
Quem deseja a paz da alma, deve arrancar de sua ferida a flecha do desgosto, da
queixa, da lamentação. Feliz será aquele que consegue vencer a dor. Assim, sepulta
tu mesma o teu filho.
Extenuada pela dor, Krisha Gotami sentou-se à beira do caminho, pôs-se a
meditar no silêncio do entardecer e disse consigo:
"Quão egoísta sou eu em minha dor! A morte é o destino comum de tudo
quando vive. Porém, neste vale desolado há um caminho que conduz à
imortalidade: aquele que elimina de si todo egoísmo!”
E sufocando o amor egoísta que sofria por seu filho, enterrou-o no
bosque. E foi logo refugiar-se no Iluminado, e encontrou o consolo que alivia o
coração dilacerado pela dor.
“Caros amigos que visitam o Blog e queridos alunos
do Sanchin Dojo,
é difícil falar sobre a morte, visto que nunca
estamos preparados para ela, se assim estivéssemos talvez não seríamos tão
humanos, não é mesmo?! Enfim, dedico este conto a um membro do nosso Dojo que,
recentemente, viu falecer sua querida avó e, logo após alguns meses, seu tio.
Que Deus dê à família o devido conforto! E que este conto também seja dedicado
a todos que passaram ou estão passando por este difícil e inevitável momento da
vida. Ganbarimashou!”
Sensei Júlio Mário – 3º.Dan
P.S.:
no Cristianismo o grão de mostarda também tem a sua simbologia. É, por exemplo,
o símbolo da certeza do Reino de Deus (veja em Evangelho de Mateus, capítulo
13, versículos 31 e 32). Boa reflexão e fiquem com Deus!
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