Domingo, 27 de novembro de 2011
Certa
vez Geshe Chekawa, um monge tibetano que dominava inúmeros ensinamentos
de diversas escolas, se deparou com uma tira de papel contendo um
trecho de duas linhas que o fizeram se maravilhar:
“Ofereça o ganho e a vitória aos outros. Tome a perda e a derrota para si mesmo.”
Chekawa, comovido com o verso, procurou um Mestre nestas instruções. Chegara até Sharawa, discípulo de Geshe Langri Thangpa (mestre Kadampa do século XII). Ao questioná-lo sobre a natureza daquelas linhas, teve a seguinte resposta:
- Goste ou não deste ensinamento, você só pode dispensá-lo se não quiser alcançar o Estado de Buda (Iluminado).
Então Sharawa, comovido com a busca de Chekawa, acabou por aceitá-lo como seu discípulo e o instruiu durante anos na prática, que era a sua especialidade, denominada "Os Oito Versos que Transformam a Mente" (ou "Os Oito Versos de Langri Thangpa").
Após seis anos de treinamento constante, o discípulo se realizou, eliminando todo e qualquer traço de egoísmo.
Eis os oito versos:
1. Com a determinação de alcançar o bem supremo em benefício de todos os seres sencientes, mais preciosos do que uma jóia mágica que realiza desejos, vou aprender a prezá-los e estimá-los no mais alto grau;
2. sempre que estiver na companhia de outras pessoas vou aprender
a pensar em minha pessoa como a mais insignificante dentre elas e, com todo respeito, considerá-las supremas, do fundo do meu coração;
3. em todos os meus atos vou aprender a examinar a minha mente.
E sempre que surgir uma emoção negativa pondo em risco a mim mesmo e aos outros, vou com firmeza enfrentá-la e evitá-la;
4. vou prezar os seres que têm natureza perversa e aqueles sobre os quais pesam fortes negatividades e sofrimentos, como se eu tivesse encontrado um tesouro precioso, muito difícil de achar;
5.
quando os outros, por inveja, maltratarem a minha pessoa ou a
insultarem ou caluniarem vou aprender a aceitar a derrota, e a eles
oferecer a vitória;
6. quando alguém, a quem ajudei com grande esperança, magoar ou ferir a minha pessoa, mesmo sem motivo, vou aprender a ver essa outra pessoa como um excelente guia espiritual;
6. quando alguém, a quem ajudei com grande esperança, magoar ou ferir a minha pessoa, mesmo sem motivo, vou aprender a ver essa outra pessoa como um excelente guia espiritual;
7. em suma, vou aprender a oferecer a todos, sem exceção, toda ajuda e felicidade, por meios diretos e indiretos, e a tomar sobre mim, em sigilo,
todos os seus males e sofrimentos;
8. vou aprender a manter estas práticas isentas das máculas das “Oito preocupações mundanas” e, ao compreender todos os fenômenos como ilusórios, estarei liberto da escravidão do apego!
As oito preocupações mundanas são:
1. Gostar de ser elogiado;
2. não gostar de ser criticado;
3. gostar de ser feliz;
4. não gostar de ser infeliz;
5. gostar de ganhar;
6. não gostar de perder;
7. desejar ser famoso;
8. não gostar de ser ignorado.
“Caros alunos do Sanchin Dojo e amigos que visitam o Blog,
o ano quase se finda. Assim sendo é chegado o momento de fazer as devidas reparações:
-
peço desculpas aos meus alunos do Sanchin Dojo se, como Sensei, não
pude orientá-los melhor no Budo (Caminho do Guerreiro), afim de que
vencessem seus inimigos interiores;
-
peço desculpas aos meus alunos do IEC e Mons. Mário se, como Professor
de Química, não pude auxiliá-los ou prepará-los melhor para vencerem o
obstáculo do vestibular, ou ainda se acabei me perdendo na tarefa de
cumprir com o programa ou conteúdo me esquecendo de ser mais amigo;
- peço desculpas aos Maçons se, como Irmão, não fui tão prestativo e caridoso como a Ordem prescreve;
- peço desculpas à minha Paróquia se, como membro das Pastorais de Liturgia e Batismo, não fui um bom servo de Deus;
-
enfim, peço desculpas aos meus amigos e familiares se, como ente
querido, não pude dar a devida atenção ou auxiliá-los quando mais
precisaram, ou seja, se fui omisso.
Com o desejo e o esforço de me tornar melhor ofereço o meu abraço.”
Sensei Júlio Mário – 3º.Dan
P.S.: esse conto foi ensinado por S.S. o Dalai Lama no Brasil em abril de 2006, no templo Zu Lai, em Cotia (SP).
3 comentários:
Como esses versos são poderoso, hein Sensei?
Gostei de todos, em particular das preocupações mundanas. Muitas vezes nos preocupamos com muita pouca coisa.
Muito obrigada pelo conto!
Bem interessante a preocupação mundana de querer ser sempre feliz. De fato, a felicidade é algo muito bom, mas conforme li uma vez, ela não deve ser o objetivo do que fazemos, mas sim a consequência dos nossos atos. Muito boa a reflexão! Obrigado pelo conto!
Oi Lílian e Paulo,
obrigado pelo carinho e por contribuirem com a nossa reflexão. Abraços!
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